sexta-feira, 6 de abril de 2012

Eu fui embora.

Way down yonder in the graveyard walk
I thank God I'm free at last
Me and my Jesus going to meet and talk
I thank God I'm free at last

On my knees when the light passed by
I thank God I'm free at last
Thought my soul would rise and fly
I thank God I'm free at last

Some of these mornings, bright and fair
I thank God I'm free at last
Goin' meet my Jesus
In the middle of the air
I thank God I'm free at last

Antony & The Johnsons


Para ti. Sempre. Foi sempre para ti.
Sempre.

...

Triste. Tão triste.

quinta-feira, 29 de março de 2012

The one that got away.

Summer after high school when
we first met
We'd make out in your Mustang
to Radiohead
And on my 18th birthday
We got matching tattoos
Used to steal your parents' liquor and
climb to the roof
Talk about our future like we had
a clue
Never planned that one day
I'd be losing you
In another life, I would be your girl
We'd keep all our promises, be us
against the world
In another life, I would make you stay
So I don't have to say you were
The one that got away
The one that got away
I was June and you were my
Johnny Cash
Never one without the other,
we made a pact
Sometimes when I miss you
I put those records on
Someone said you had your
tattoo removed
Saw you downtown, singing the blues
It's time to face the music
I'm no longer your muse
In another life, I would be your girl
We'd keep all our promises, be us
against the world
In another life, I would make you stay
So I don't have to say you were the
one that got away
The one that got away
The one that got away
All this money can't buy me
a time machine, no
Can't replace you with a
million rings, no
I should have told you what you
meant to me, whoa
'Cause now I pay the price
In another life, I would be your girl
We'd keep all our promises, be us
against the world
In another life, I would make you stay
So I don't have to say you were the
one that got away
The one that got away
In another life, I would make you stay
So I don't have to say you were the
one that got away
The one that got away

domingo, 18 de março de 2012

Escrevi teu nome no vento.

Escrevi teu nome no vento
Convencido que o escrevia
Na folha dum esquecimento
Que no vento se perdia

Ao vê-lo seguir envolto
Na poeira do caminho
Julguei meu coração solto
Dos elos do teu carinho

Em vez de ir longe levá-lo
Longe, onde o tempo o desfaça
Fica contente a gritá-lo
Onde passa e a quem passa

Pobre de mim, não pensava
Que tal e qual como eu
O vento se apaixonava
Por esse nome que é teu

E quando o vento se agita
Agita-se o meu tormento
Quero esquecer-te, acredita
Mas cada vez há mais vento


terça-feira, 13 de março de 2012

Amanhã.


Disse. Disse que te amo. Deixei a palavra alforriar-se indefinidamente dos lábios, como uma sentença pronunciada demasiado cedo.
Foi um "amo" com sabor de despedida. A despedida que nunca ambicionamos fazer, que desejamos sempre demorar.
Dei-lhe asas. Deixei-a ciar. Existem termos que nos saturam a alma. E nessa palavra assentei todo o anseio.
Era eu. Eu, costurada em cada letra. Eu, refletida em cada nuance.
Existem palavras que nos doutrinam. Existem palavras que superam a sua força.
Hoje, o sigilo a que me envio, grita de uma forma que me despedaça. Toda.
Mas não o vou calar. Sei que hoje o silêncio tem sabor a ti. Tem sabor de adeus, de "amo-te" em cada porção do seu corpo disforme.
Só o silêncio, só o seu grito, me pode apagar a dor...
Existem silêncios demasiado nossos. Este... é um deles.
Existem vácuos que nunca se irão encher.
Os meus, são demasiado densos. São ecos de dias tão diuturnos. São uma sombra do meu sorriso ido...
Queria que entendesses a dor. De não existir muitas mais razões para chorar e, no entanto, o corpo despedaçar a cada instante...
Ouves? Há um burburinho de afago que açambarca o tempo. Em nós!
Mas eu estou tão vazia. Eu era eu, sabias? Contra tudo, contra todos, era eu. Eu.
E ainda nem sabia o que isso era. Só sabia ser, desesperada por uma ocasião de sossego.
Existem viagens que, quando terminadas, já não importa se chegaste ou não. O preço é descomedido.
Fiz muitas. Muitas viagens. Cá dentro. Admiti bocados de mim que não amo. Encarei-os.
Eles ainda existem.
Hoje, eu, já não sou eu. A viagem completou-se e eu permaneci na expectativa de um amanhã que jamais chega.
Amei os filhos que não tive, sonhei com a casa que não edifiquei, afaguei um rosto que não conheci, deliciei-me com os embriões que o meu ventre se nega a passear.
E, abruptamente, chegou o vácuo.
Nada importa quando o ontem te rouba o amanhã.
E o amanhã, amor... jamais chega.
Por vezes, queria dizer-te que a aflição é elevadamente real para ser apenas delírio.
Por vezes, queria abraçar-te e implorar-te que não fosses... Que ficasses aqui e me embalasses como a uma miúda.
O pânico invade-me. Depois, uma espiral, uma espiral que me atira contra a parede e me devora a pretensão de estar perto de pessoas.
Lágrimas cristalizam-se na garganta e criam um colossal nó.
Por vezes, queria dizer-te que só a tua presença me acalma esta ânsia. Outras vezes,  exclusivamente ambiciono permanecer a ouvir o silêncio piar, enquanto, de olhos fechados, te imprimo anos e anos de fantasias escavacadas e geadas que submergem o meu corpo.
...
Não consigo falar com eles, sabias? Eles viajam na mesma casa que eu, mas são meras plateias silenciosas das minhas fiéis mutações de génio.
Sempre tive riso fácil. Vendo a minha boca a gargalhadas que jamais me beijaram o coração.
Sempre fui a mais forte. Sempre. Eles acham que será sempre assim! Que nos malditos períodos eu irei confortá-los e, que ainda me aliviarei a mim mesma.
...
Estou tão doente... Sinto-o nos ossos. Sinto-me a definhar. A minha mente! Não está aqui.
Sabes, amor? O cansaço é uma moléstia que nos deixa frouxos. E eu estou tão cansada... Quando acordo, penso que acordo para um novo sonho. Tudo se me é baço aos olhos.
Eu sei que isto vai acabar. Eu sei que esta espera que me esfola os joelhos vai terminar e, então, tudo vai ficar bem.
Eu repito-o para os outros. Como se fosse um hino corriqueiro. Rio-lhes. Afago as suas imponderações e cochicho que a vida é um colossal inventário de pedregulhos na estrada e que, mesmo assim, a vida não tem fim.
E é verdade... Quem acaba sou eu. Eu é que me revogo nestes sossegos, nestas constantes implosões, nestes extermínios que escondo atrás do ar desleixado e confiante.
E depois, inundo-me de aflição e equívocos e choros que nunca sei soluçar e que só fluem na voz.
Eu sei que amanhã é outro dia e que eu sempre fui catedrática no que toca a fingir forças e cafunés.
Eu sei tudo isso. Eu sei.
Fui eu quem idealizou as mais belas frases de alívio e quem depois as repetiu a si mesma enquanto, do ar, caíam denúncias.
Fui eu quem acariciou os meus dedos frios nas noites em que ninguém vinha ver se os cobertores existiam.
Fui eu quem escreveu contos para entreter os gritos que se me semeavam nos blocos, nos jornais, nas paredes, nos termos que jamais aceitei deixei sair do peito.
Sim, amor. Fui eu. Eu que tricotei muralhas em volta do meu “eu” tão moribundo e me liquidei moderadamente.
Porque não o sei fazer agora?
Porque agora não estou sozinha. Agora existes. E o meu eu já não contesta os contos, nem os meus dedos, nem as minhas citações.
Apenas as tuas.
Só a tua pseudo-presença serena esta miséria.
Nunca falei o mesmo idioma que as outras meninas. Nunca fui casta e ingénua. Mas fui romântica.
Ainda sou.
E veio a escrita. O meu defeito e a minha redenção.
Queria dizer que ela existe porque tu existes. Ou, que ela dura porque é boa. Mas não. Ela existe meramente porque vivo.
É implicação da minha voz mitigada assim como a sombra é consequência do Sol.
Por vezes quero tão só dizer que te amo... E é essa a única certeza que tenho nesta argila que sou. Onde chafurdo nas minhas próprias indecisões.
Outras vezes... Estou demasiado espairecida a fingir prosperidade para me lembrar do que, realmente, penso ou quero ou planeio.
Vou esperar o teu retorno.
Até lá, grito silenciosamente. Para não os despertar e chocar... Vou continuar a admitir as suas presenças tão subtis, tão cegas.
Quase te posso notar, mas não te consigo tocar. Nunca consegui.
Aqui ao lado, eles prosseguem as suas vidas. Paralelas à minha.
À minha vida que só o é quando estás comigo.

domingo, 11 de março de 2012

Mais um fado no fado.

Eu sei que esperas por mim
Como sempre, como dantes
Nos braços da madrugada...
Eu sei que em nós não há fim,
Somos eternos amantes,
Que não amaram mais nada.

Eu sei que me querem bem,
Eu sei que há outros amores
Para bordar no meu peito.
Mas eu não vejo ninguém,
Porque não quero mais dores
Nem mais baton no meu leito.

Nem beijos que não são teus,
Nem perfumes duvidosos,
Nem carícias perturbantes,
E nem infernos nem céus,
Nem sol nos dias chuvosos,
Porque inda somos amantes.

Mas Deus quer mais sofrimento,
Quer mais rugas no meu rosto
E o meu corpo mais quebrado...
Mais requintado tormento,
Mais velhice, mais desgosto,
E mais um fado no fado.

"Camané"

Hoje ouvi e não chorei.

Para ti.

Narcolepsia.

Pesa-me como chumbo. Faz-me curvar, esta sina, até não conseguir ver além das minhas passadas. Com o passar das horas pesa ainda mais. Com o passar do tempo, habituo-me. É uma vantagem.
Estou ebúrnea. Sou aquela que era. Aquela. Aquela que costumava ser. Porém, de acordo com sinais erróneos, custa. Custa tanto quanto pensar. Elaborar textos de maneira a expressar-me é o que anda me resta. Ainda. Digo, ainda. E ainda que seja somente isto que me resta, é o que me rege.
Posso pensar - e penso - que me ouves baixinho. Como um sussurro lento e melancólico. Mas, será que a mensagem fica? Penso e, pouco depois, anuo. Não não me ouves num sussurro lento e melancólico. Ouves-me aos gritos dentro do teu corpo. A percorrer-te que nem louca. Claro! Claro como a passagem pelo caminho barulhento de hoje. E de ontem. E, claro está, como o de amanhã será.
Posto isto, tento levantar as pálpebras para evitar a queda. Só a queda - ou a sua possibilidade - me demove. Depois, quando finalmente levanto as pálpebras e não caio, desejo ter os olhos cravados nas minhas passadas. Não suporto aqueles olhares. Indiscretos. Verdes. Penetrantes. São como supositórios falantes. Com sorrisos distorcidos. Degradados, derretem sob a sua própria ignorância.
Ah! Ignorância. Apodera-te de mim! Cessa-me os soluços. Enxuga-me os rios tristes que nascem e desaguam neste corpo. Permite que seja feliz. Permite que me derreta.

Para ti. Sempre.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Amantes.



És a minha realidade e o meu devaneio,
O aprumado morro golpeado.
És o meu mais esplêndido anseio clandestino,
e eu a veracidade que tanto aspiras.

Jaze invencível, mas não longínquo,
porque és um devaneio de fortuna
e muito mais do que o acaso.
És a minha utopia, és a minha puberdade!
E na tua alma está o eco de tudo o que invocamos.

O meu imo tem uma historieta cingida,
maltratada pela aflição e por bel-prazer,
o amplo amor que te consagra.
A verdade é só a alma trovadora
onde nos beijamos, amantes,
completados no mundo da incidência e do adeus.

Desde que és a minha doidice tricotada,
o teu sopro cheio de sol virou o meu sono.
Arrazoando que significarias apenas uma atracção,
uma alegoria de inchaço, irretorquível e frígida.

E assim não és, nem habitas em mim.
Mas confio o sol ao meu espírito.
E tu és o lume que me incinera
porque tudo que amamos, inventamos!


Para ti. Sempre. Sempre.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Deixa estar tudo no mesmo sítio.


Hoje senti-me tão sozinha. Era como se eu não conhecesse ninguém, não tivesse mais ninguém com quem contar. Nenhum rosto na rua, conhecido. Sentei-me no metro, coloquei os phones e,desatei a chorar. Na rádio tocava 'Case of You' de Joni Mitchell. Nem me importei se estava alguém a ver-me. Desejei nunca mais ter que sair daquele Metro. Pergunto-me todos os dias o que faço de errado e porque acabo sempre por estragar tudo. Acho que eu sou fraca e vou acabar sozinha, gorda, a ver um filme sobre gatos na RTPMemória, descabelada, devorando litros de gelado de melão.
 Acho que eu não sirvo nem para mim, e faz algum tempo que não escrevo coisas assim...de mim para alguém que venha ler isto. Ridículo! Porque ninguém tem que vir aqui ler as minhas coisas.
É como eu disse... Esta solidão. Parece o fim do mundo. Será que um dia eu vou sentir-me melhor? Eu não espero que a resposta venha aqui, deste post. Estou só a vomitar o que sinto, na realidade.
 Ah, eu fico revoltada com uma coisa. Todo o mundo chinfrina, todo o mundo se odeia, todo mundo trai e,  essas pessoas sempre ficam juntas para sempre. MAS PORQUÊ????????????
Não queria acordar mais...dormir parece ser a melhor solução. As coisas que eu sinto são sempre grandes demais, intensas demais. E sim, eu vou morrer se o meu coração quebrar novamente. E sim, vou morrer, nem que seja por muito tempo. Pra mim isso é morrer, e eu acho que nunca vou ficar bem.
Ser eu é uma coisa que eu não desejo a ninguém, sinceramente. Essa dependência pelas coisas, essa falta de coerência eterna.
Eu sou uma hipérbole, prazer.

Para ti.

 http://www.youtube.com/watch?v=u5CVsCnxyXg&feature=endscreen&NR=1

Asas.

As asas são para voar

Naquele dia, o Jorge esperava-me com um conto na ponta da língua.

Quando se tornou maior de idade, o pai disse-lhe:
— Meu filho: nem todos nascemos com asas. Embora seja verdade que não tens obrigação de voar, creio que seria uma pena limitares-te a caminhar, tendo as asas que o bom Deus te concedeu.
— Mas eu não sei voar — respondeu o filho.
— É verdade… — disse o pai. E, caminhando, levou-o até à beira de um precipício.
— Vês, filho? Este é o vazio. Quando quiseres voar, vens até aqui, apanhas ar, saltas para o abismo e, abrindo as asas, voarás.
O filho hesitou.
— E se cair?
— Se caíres, não morrerás. Ficarás apenas com algumas nódoas negras, que te tornarão mais forte para a tentativa seguinte — replicou o pai.
O filho voltou para a aldeia, para junto dos seus amigos e companheiros, com os quais caminhara toda a sua vida. Os de vistas mais estreitas, disseram:
— Estás louco? Para quê? O teu pai enlouqueceu… Para que é que precisas de voar? Deixa-te de disparates! Quem é que precisa de voar?
Os melhores amigos aconselharam:
— E se for verdade? Não será perigoso? Porque não começas aos pouquinhos? Experimenta atirar-te do alto de uma escadaria ou da copa de uma árvore. Mas… do cimo de um precipício?
O jovem escutou o conselho dos seus amigos queridos. Subiu à copa de uma árvore e, enchendo-se de coragem, saltou. Abriu as asas, adejou-as em pleno ar, com todas as suas forças, mas infelizmente despenhou-se.
Com um grande galo na testa, cruzou-se com o seu pai.
— Mentiste-me! Não consigo voar. Experimentei e olha para o galo com que fiquei! Não sou como tu. As minhas asas só servem para decoração.
— Meu filho — disse o pai —, para voar é preciso criar espaço livre para que as asas se possam abrir. É como atirar-se de pára-quedas: precisas de uma certa altura antes de saltar.



(Jorge Bucay)

O tempo vai passar por ti.

Nasci hoje de madrugada
vivi a minha infância esta manhã
e cerca do meio-dia
já passava a minha adolescência.

E não é que me assuste
que o tempo passe por mim tão depressa.
Só me inquieta um pouco pensar
que talvez amanhã
eu seja
demasiado velho
para fazer o que deixei pendente.


(in Contos para Pensar - Jorge Bucay)

terça-feira, 6 de março de 2012

Uma história para pensar.

"Caminhava distraidamemte pelo caminho e, de repente, viu-o.
Ali estava o imponente espelho de mão, ao lado da vereda, como se estivesse à sua espera.
Aproximou-se, levantou-o do chão e comtemplou-se nele.
Viu-se bem.
Não se viu tão jovem, mas os anos tinham sido bastante benignos para ele.
No entanto, havia alguma coisa desagradável na sua própria imagem.
Certa rigidez nos gestos ligava-o aos aspectos mais azedos da sua própria história.
A raiva.
O desespero.
A agressão.
O abandono.
A solidão.
Sentiu a tentação de o levar, mas depressa pôs de parte a ideia. Já havia bastantes coisas desagradáveis no planeta para carregar mais uma.
Decidiu ir-se embora e esquecer para sempre aquele caminho e aquele espelho insolente.
Caminhou durante horas procurando vencer a tentação de voltar até ao espelho. Aquele objecto misterioso atraía-o como os ímans atraem os metais.
Resistiu e acelerou o passo.
Trauteava canções infantis para não pensar naquela imagem horrível de si mesmo.
A correr, chegou à casa onde tinha vivido desde sempre. Meteu-se vestido na cama e tapou a cabeça com os lençóis.
Já não via o exterior, nem a vereda, nem o espelho, nem a sua própria imagem reflecida no espelho. Mas não podia evitar a recordação daquela imagem.
A do ressentimento,
da dor,
da solidão,
da falta de amor,
do medo,
do desprezo.

Havia certas coisas indizíveis e impensáveis.

Mas ele sabia onde tinha começado tudo aquilo...
Tinha começado naquela tarde, havia trinta e tantos anos...
O menino estava estendido, a chorar diante do lago a dor dos maus tratos dos outros.
Naquela tarde, o menino decidiu apagar, para sempre, a letra do alfabeto.

Aquela letra.
Aquela.
A letra necessária para nomear o outro se estiver presente.
A letra imprescindível para falar aos outros ao dirigir-lhes a palavra.

Se não houvesse maneira de os nomear, deixariam de ser desejados...
E então não haveria motivo para os sentir necessários...
E sem motivo nem forma de os invocar sentir-se-ia, por fim, livre...

EPÍLOGO

Escrevendo sem «u»
posso falar até do meu cansaço,
do que te pertence, do que me pertence,
do que tenho,
do que me cabe...
Até posso escrever sobre ele,
sobre eles,
e sobre os demais.
Mas sem «u»
não posso falar dos outros,
do tu,
não posso falar do seu,
do teu,
nem sequer do conjunto de nós todos.
Às vezes perco o «u»...
E deixo de poder falar-te,
pensar em ti, amar-te, dizer-te.
Sem «u», fico comigo mas tu desapareces...
E sem poder nomear-te,
como poderia desfrutar-te?

Como no conto... se tu não existes
condeno-me a ver o pior de mim mesmo
reflectindo-se eternamente
no mesmo,
mesmíssimo,
estúpido
espelho.

(In Contos para pensar - Jorge Bucay)



domingo, 4 de março de 2012

O amor?


O tempo, a imagem.
O caminhar perpendicular.
Aversão restiva em olhos frígidos,
olhos tão castanhos e tão vácuos.

O alarme, o sepulcro,
o caminhar oblíquo,
obstinação ao sentimento brilhante;
onde está, agora, aquele amor flébil?


Momentos acres, abstratos,
outras lembranças do período afortunado,
o anseio de regressar:
o mesmo sol faiscaria, talvez.

O derradeiro dia, o adeus,
o período, a figura
aversão chamejante dos teus olhos.
O amor? Está aqui. Isso é um facto.

O empíreo geme. Eu também.
O amor?

sexta-feira, 2 de março de 2012

Ela.

"Prelúdio:
Não era de desconhecer que ela, dantes dominadora soberana dos amores inexequíveis, após um atrofiar ronceiro e atroz, expirasse isolada nos braços de desconhecidos. Foi descoberta sem actividade, num qualquer quelho de ébrios de cólera e de asco.
No seu enterro, achavam-se duas carpideiras, e o coveiro; a vacuidade de um préstimo monástico manifestava o delito da sua presença.
Nem cista obteve; foi desaguada num incógnito barranco de um fossário precipitado de almas vagabundas – o catre mortuário seria, também, fundamental para outras extinções comunicadas - assim como a estéril mortalha que, outrora ebúrnea, era já jamanta rota de máculas, pelo que foi, arremessada nua, a uma muito pouco imaginada depressão trivial, empanturrada de outros resquícios funestos.
Capítulo único:
Ela era a dominadora altiva dos amores inexequíveis, cativada por sonhadores imoderados em retirada de si próprios; a arrojada, que deles se intencionava inspiração, arreliava-os.
Olhos, onde ela os cravasse, logo lhe protestavam o património e convertiam-se invejosos caso outros se atrevessem alçar para o corpo tido; qualquer incauto vate que afoitasse sorver do seio intumescido de sícera da dama desses olhos, ébrio e defraudado da sua analogia – poeta contemplado, poeta confiscado – se proferia.
Ela deliciava o sonhador com aguadilhas lânguidas de seu sexo, com líquidos lácteos da sua bílis corporal e subjugava-o instantaneamente aos vínculos do ferruncho e da catástrofe, qual vergôntea arguta. Espiava-o com a coadjuvação das suas cativas gárgulas, fantasias e harpias que o esporeavam de sofrimento, de horror, de contestação e de angústia. Coitado daquele que tombasse nas suas garras! Jamais ousaria empinar a voz que lhe era abreviada a carpidos delirantes e a ímprobo cativeiro, endoidecendo no estrebuchar de quem se afoga e tem presente a sua imperecível ânsia.
Mas, se ele tentasse ejacular mais que um gemido e difamar a sua buena-dicha, de imediato ela lhe injectaria o vírus da sua patológica displicência e o aprisionaria no ergástulo do seu emudecimento.
Todavia, um deles esburacou as carnes escapando-se às correntes da perversidade. Apartou o açaime do mutismo tributado e vociferou a sua cólera. Arroste!
Réproba. Ela. Sugerida à mágoa da sua debilidade, sujeita à sua própria esparrela até que, enfartados, fosse demolida pela inquietação de uma extinção lenta e vaticinada.
E, assim, ela estalou: desprotegida, desconsiderada de quaisquer sentimentos, execrada, rompida pelo ódio. Pelo seu ódio. E nem as gárgulas se enterneceram na sua hirta petrificação…
Desenlace:
O sonhador é, agora, um ser informe que veleja atalhos do ignoto e da anamnese.
Foram-lhe impedidos a escrita, os panegíricos, as cantigas e as melodias que a poderiam restaurar.




Para ti. Sempre.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Coisa Nenhuma.


Frivolidades de Coisa Nenhuma

O despeito amoroso atraiçoa o mais reservado de todo um ser. Abjura-o na sua concessão. Aprisiona-o em fluxos de iniquidade e ardis tenebrosos. Culpa-o e sentencia-o a um extermínio arrastado de si mesmo. Cerca-o de hostilidade e de chacota. Despeja-o de melindre e cabeça. Submerge-o na demência da improbabilidade e tortura-o na ininterrupta alegação sem causas.
O que resta, após? Coisa Nenhuma!
Também, Coisa Nenhuma existiu. Durou, a Coisa Nenhuma, eras em demasia. Como erva trepadora que não foi esculpida no brotar de peçonha e de ganância.
Essa Coisa Nenhuma pode sintetizar-se a anãs ilusões, amplas utopias e qualquer apática permuta de fluídos orgânicos.
E, dessa Coisa Nenhuma, sobeja culpa de que essa Coisa Nenhuma tenha sucedido por uma grosseira vontade sexual de ocasião.
Não choca que o dolo se encorpe nessa Coisa Nenhuma. Como Coisa Nenhuma que foi, não havia alicerce consistente para a sobrevivência ao despeito.
E o ciúme chacinou o hipotético "amor" que era Coisa Nenhuma!
E assim, também Coisa Nenhuma expirou. E nem deixou pesares, apenas um despeito aceso.
Não! Inúmeras vezes, não! Elejo a inexaurível solidão.

Para ti. Sempre.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Lição.

Hoje aprendi que a cama também serve para dormir.

Vou tentar. :)

Ele.

Estou a falar com ele agora mesmo. Está deprimido. Eu disse que passava. E espero mesmo que sim. Para deprimida, chego eu e sobro.
É doloroso falar com ele. Mas ao mesmo tempo é tão bom. As minhas pernas tremem descontroladamente.

Hoje estou muito mal. Nem escrever consigo.
Mas penso em ti.

Para ti.

Para ti, meu amor,
Que me ouves no alto das tuas colinas,
Que me vês de baixo e que me fascinas,
Com armadura polida, brilhante... Meu cavaleiro...
Danço para ti o que aprendi com as boninas,
Ofereço-te mariposas bailarinas... Botão de rosa como germinas.


Para ti, meu amor,
Para o qual não há rodeios,
Apenas palavras subtis, não há falta de meios,
Imploro mais um louco olhar, um cobiçar!
Arranco tudo, bem fundo... Liberto prisioneiros,
Outrora peixes, outrora veleiros.


Para ti, meu amor,
Que antes nada me dizias, que não entendias,
Não olhavas, nem nada fazias,
Há apenas um parecer... Um doce merecer,
Onde todas as cores que libertas... Arco-íris irradias,
Eram embrulhos de fadas o que me oferecias.


Para ti meu amor...
Não há palavras... vendidas, roubadas, corrompidas,
Há gargalhadas embaladas, lágrimas já lavadas,
Não há lugares longes e equidistantes... Como antes,
Há ondas em instantes, ventos quentes há bastantes e estrelas caçadas...
As nossas formas já traçadas entre linhas já delineadas...


Para ti, meu amor,
Há apenas um poço sem fundo,
Onde guardo todo o meu génio, todo o meu mundo!

Foste.

Foste o tudo e o nada.
Mas foste.

A Noite.

A noite é demasiado dolorosa.
Choro agarrada à almofada para conseguir abafar os soluços. É um choro em catadupa que me transporta para um local que já não existe. O nosso local. O "nós".
Anda! Porque não voltas? Porque não te chamo!? É isso?
Volta, amor. Volta...

Para ti. Sempre.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

"Obrigada"

Sabes o que mais me custa?
É não saber se sabes o que que eu quero que tu saibas. Porque, na realidade, é tão simples! Quero-te a ti. Gostava de te sentir próximo.
Ontem trocámos um sms. Remataste com um seco: "Obrigada". Como se para mim não fosse um prazer delirante receber uma notícia tua...
Mas, fui eu quem te afastou. Pela força de circunstâncias que, se na altura pareciam insuportáveis, agora não importariam minimamente. Só que na altura - na nossa altura - eu não imaginava o que era estar longe de ti. Não receber incessantes palavras tuas. Não receber coisa alguma tua. É. Assim é complicado. Por vezes dou comigo com dificuldade em respirar. Por vezes nem uma palavra consigo articular. Fico embargada. A garganta entope de mágoa.
Se fosse hoje seria diferente. Seria, sim. És a minha pessoa. Mesmo longe és a minha pessoa.
Desculpa.

Nos mutismos barulhentos da noite,
Venço-me na ânsia enérgica
Da agripnia que me castra o sono.
Desfilam castros de recordações
Que teimam ser a maldição crua
De lágrimas estéreis já vertidas.

Tento adormecer o sono negado,
Afastar os pesadelos que persistem,
Negar os sonhos que me cercam
De emoções, sentimentos e razões.
Tento libertar-me das vis vivências,
Remetê-las à urna do esquecimento,
Cortar pela raiz deleitosos suspiros,
Imolá-los na pira fúnebre da negação.

Se a nostalgia se demora na inexistência
De um amor vivenciado pelo além-mundo,
Que psicopatia me sonegou os flagelos
Da solidão, do desalento, da fúria, da mágoa?
Não! Nenhuma patologia me narcotiza.
Só a convicção que esta saudade não vive.

Alquebro enfim; não são mais que resquícios
De uma época afligida por aparências efémeras,
Tentando atestar-se de direitos concúbitos,
Ou a usufruto edaz do meu ser em desalinho.
Rogo à aurora que não me acorde mais;
Ao dia que decorra envergonhado;
À noite para não sentir nem saudade, nem dor.



Para ti. Sempre.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A ti.

A ti.


Inventava-te perpetuamente, nestes trilhos onde os embates são tão entusiásticos. Nesse caso,
prorrogava as mãos até ti e polia-te o semblante, como quem quer abalar e permanecer nesta
convergência esboçada a duas mãos e colorações mate. São transitórios, os perímetros do meu
corpo e embaciados os meneios caricaturados num traslado da noite. Só as minhas mãos hesitantes
cochicham os apólogos afugentados pela corrosão do prazo e avizinhados a fortuitos trajectos.
Naqueles dias, a mágoa adquiriu-me e não mais fui. Compus sensivelmente um bosquejo de como te
cursar os trechos.

(Transeunte das momentas mortas em que morrer será eternamente um atalho).

Mas, habito assim na aquiescência dos dias, em que ir é, também, permanecer, caso me lembre de novo quem eu
sou. Careço deste mutismo enfeitiçado, em que amar é debater sobre um afecto presente num corpo destinado.
Esqueci-me há já algum tempo, por não ter tempo para nele me contemplar. Estão lá todos os olhares que trocámos,
todas as palavras que esboçámos paralelas no tempo, em que fomos tudo o que quisemos.

Eu fui vacuidade imprudente. Tu, perseverança corpórea.
Tu, foste eternamente tu. Eu fui sendo nos teus olhos, a invisibilidade de um exclusivo carácter.
Como seguir-te os trechos? Já nada me prende cá. Sou só alguma pessoa que se arruína nas
súplicas que cala sentindo que as mesmas são só um jornadear contra o prazo. Ouvi-as num carpido arado em
lençóis de linho intacto. Esta estirpe que se cimenta no próprio semblante é nobre e resplandecente, e eu, fixei-me
nessa candidez. Há evasões que são uma dádiva em cada enviesa torta com novos encontros à espera. No
desembarcadouro há sigilos arrecadados de outros períodos.
(Será que idolatrei e não vi que no teu atalho há um refúgio mais seguro?)

Já fui abrolhos nas rosas e âmago em perfurados devaneios. Agora sou pétala débil, onde mora a plangência. Não me acredites despida. Não o sei ser! Perdi-me nessa alvura e anulei os caracteres pincelados na minha cútis.

Para ti. Sempre.



domingo, 26 de fevereiro de 2012

Chorei. Afinal.

Já chorei. Afinal.

Quando?

Tenho tanta necessidade de escrever o que sinto, como de apagar o que escrevi logo de seguida.
Isto, porque, o que sinto agora não é o que senti antes nem, tampouco, o que vou sentir daqui a míseros instantes. Numa palavra, inconstante.
É. A sensação é terrível. Vivo com as emoções a galgar boca fora. Directamente para um público feroz e voraz. E, por tantas vezes, inexistente.
Quando me questiono - questiono sempre - quase desfaleço. Não gosto de me colocar em causa. Luto por fazer o correcto mas... que é isso? O correcto? Que merda é essa? Ideias pré-concebidas de situações inequívocas? Bah! Assim é fácil.
Estou cansada. Mas penso em ti. Sempre. Com tanta força!

Vem mesmo a calhar.
Mais uma das minhas alienações.


Sempre Vieste.


Sempre Vieste

Quem sou já não sei. Não evoco. Não passo
de uma ignóbil sombra do meu pretérito.
Pretérito fátuo.
Já nada sei… Já nada completo.

O meu coração feito de hálitos
fina-se desgarrado.
O meu esqueleto da existência matado
Inflama-se num fogaréu do subúrbio.

Tudo tenho, mas tudo me falta.
Falta-me a benquerença e o gáudio
Duma existência cheia de pacificação.

No meu seio o coração galga,
Quando prognostico que não sou capaz
De durar sem ti, minha chama cicerone.

Sou papoila soberana
Sémen de intrujice visionária
Flor-de-lis fúlgida
Neste cativeiro que emurchece e me lasca.
Se te arrebatar, foge-me ou nega-me!
[És Tu! És Tu...sempre vieste!]

Mas não vieste.
Nem virás.
Hoje não choro. Não tenho forças.
Para ti. Sempre.

Amo-te.


Amo-te
Assim...
Um amor intacto...
Atulhado de meiguice...
Resguardado com brandura

Amo-te
Sem sentir-me tua...
Na perfeição da singeleza
De alma nua

Amo-te além de mim
E por amar-te tanto assim
O amor eu encobri.

Mesmo sem pronunciar...
Sem o declarar
Ele bate irracional
amaina-me
Nas ocasiões de dor

Amo-te
Tanto...
De mansinho...
Com carinho...
Sem ser amor doentio...

Amo-te
Somente pelo facto de existir
Fazer parte dos meus sonhos...
Das minhas incertezas e luz...

Amo-te
Porque sim...
Assim.

O fim.

O poder desta existência é ensurdecedora. Qualquer que seja o sentido daquilo que idealizo acaba sempre em ti.
De momento o que me sai é surdo. Ilegível. Incompreensível, até para mim.
De momento e, desde há muitos outros, o que quero, deitei por terra. Tenho as mãos consporcadas de remorsos e de não sei bem o quê.
De momento tenho a alma dorida de tanta pancada psicológica a que submeto esta mente já cansada.
Quero-te tanto.


Para ti. Sempre.